terça-feira, agosto 07, 2007

A Teoria Econômica do Torcedor de Radinho.

Como todo torcedor são-paulino, escuto piadas de amigos torcedores de outras agremiações, que, em geral, sempre são absurdas invenções e nada tem a ver com a prática do futebol, com o jogo no campo. É compreensível, pois dentro das quatro linhas não vejo nenhuma equipe que possa se igualar as glórias e títulos alcançado pelo tricolor.

Uma das acusações recorrentes é a de que somos “torcedores de radinho”, isto é, aquele que não comparece ao estádio para apoiar seu time e só fica sabendo do desempenho através das narrações do rádio ou dos programas de esporte – o que, diga-se, não é verdade, pois a torcida tricolor tem comparecido muito mais que algumas que se dizem grandes.

Acontece que hoje estou escrevendo para dizer que sou mesmo um “torcedor de radinho”. Ouçam bem: EU, JULIO CANUTO, SOU “TORCEDOR DE RADINHO” – ao menos por enquanto. Realmente nunca fui de freqüentar estádios assiduamente. Costumava ir uma vez num campeonato, uma vez no outro; e sempre escolhendo bem o jogo: um bom jogo, uma semifinal, uma final. Mas agora decidi, sou mesmo um “torcedor de radinho”, ou melhor, de televisão.

Explico. Além de ser são-paulino, sou brasileiro, e como a maioria dos brasileiros, não tenho dinheiro sobrando. Tenho que pensar bem como gastar meu suado dinheirinho. Daí que fui fazer as contas, o tal custo-benefício, e daí surgiu a Teoria Econômica do Torcedor de Radinho, que ofereço aos leitores deste blog em primeira mão:

Para ir ao estádio do Morumbi, saindo da zona leste, onde resido, tenho que gastar sozinho, aproximadamente, uns R$50,00 – Ingresso de arquibancada: R$15,00 + condução: R$10,00 [pra ser mais barato, carro nem pensar] + alimentação: [lanche e cerveja] R$20,00.

Pra uma renda média, dá um dia de trabalho.

Indo assistir no bar aqui perto de casa, ao lado de amigos são-paulinos e também que torcem pra outro time [o que já é uma vantagem], gasto sozinho, no máximo, R$15,00. Se tiverem quatro pessoas na mesa [que é a média], isso dá R$60,00 no total – com cerveja a R$3,00 [a garrafa] e porções a R$10 ou R$15,00. Olha a economia! Isso sem precisar ficar duas horas numa condução, sem aperto, sem empurra-empurra, sem ter que trocar a camisa pra chegar em casa vivo.

“Mas bom mesmo é conferir o espetáculo in-loco” – dirão muitos. Concordo. Mas assim seria se o que estivéssemos vendo neste brasileirão de 2007 fosse algum espetáculo, ou se ao menos tivéssemos a expectativa de ver um espetáculo. A mediocridade atual é tamanha que faz multiplicar a vantagem de “torcer pelo radinho” demonstrada na teoria acima.

Até mesmo os chamados clássicos estão muito ruins. Assisti todos pela televisão, com um baita sono: São Paulo x Palmeiras; Palmeiras x Corinthians; Santos x São Paulo; São Paulo x Corinthians. Em todos predominou as dominadas de canela, os passes errados, a falta de imaginação e criatividade, enfim, jogos sem sal, sem graça e sem comentários... Coitada da bola. Mediocridade mesmo, de ponta a ponta da tabela. Veja que o meu time, o São Paulo, alcançou a liderança mesmo após ter perdido 7 pontos em três jogos seguidos no Morumbi. O que dizer então dos outros times...

Você acha que eu vou sair de casa, gastar uma grana e perder um dia inteiro pra ver um futebolzinho desses? – A várzea perto de casa tem proporcionado jogos melhores! E muito menos perder tempo indo até a casa de dirigentes, exigir seu afastamento... Porque não ir até a casa do patrão exigir um salário melhor? Ou até a Câmara, exigir políticas públicas eficientes, e não paliativos?

Então, nem adianta vir com esse papo de que tem que estar ali em todos os momentos. Eu sempre estou torcendo, mas ao menos enquanto estiver essa mediocridade imperando nos gramados brasileiros, continuarei em casa... ou no bar com os amigos, rindo (pra não chorar) dos lances imprevisíveis destes “atletas”. Assim, pelo menos EU, saio ganhando!
Obs.: Esta mensagem foi escrita antes do jogo do tricolor contra o Grêmio, agora acho que já pintou o campeão!!!